O Turismo é um setor económico que tem crescido muito e muito rapidamente. Cada vez mais pessoas fazem turismo, devido a viajar se ter tornado muito mais barato, com a entrada no mercado das companhias aéreas low-cost e com ofertas de alojamento cada vez mais diversificadas e acessíveis. Tem crescido sobretudo o “turismo de massas”, no qual se inserem os cruzeiros e os pacotes turísticos promovidos pelas grandes agências, que acabam por ter um impacto negativo muito considerável nos locais visitados a um nível ambiental, social e económico.
Por vezes não temos essa consciência, mas a verdade é que sempre que visitamos uma cidade, nem que seja por apenas um dia, estamos a causar um impacto que não é apenas positivo. Claro que estamos a ajudar a aumentar o rendimento do local, a estimular o investimento e a ajudar à criação de emprego, contudo, não nos podemos esquecer que também podemos estar a causar uma pressão inflacionária nos preços e a contribuir para que a prioridade de investimentos no local se foquem apenas na atividade turística intensiva, acarretado custos sociais e ambientais para o sítio em questão. A um nível social, muitas vezes este aumento exponencial no turismo traduz-se também em especulação imobiliária, dramática para os habitantes da cidade, e num aumento do índice de violência. Culturalmente, também podemos apontar como principais problemas o fluxo excessivo de turismo e a descaracterização do artesanato e das manifestações tradicionais. E, claro, a circulação excessiva de pessoas e veículos leva ao aumento da poluição (aumento das emissões de CO2), à acumulação de lixo nas ruas e, muitas vezes, à vandalização de património histórico e cultural.
Para termos uma ideia, o turismo é responsável por cerca de 8% das emissões de gases do efeito estufa, o que é bastante significativo. Existe, de facto, uma grande necessidade de uma gestão do negócio mais sustentável por parte da indústria do turismo, mas também de uma maior consciência da nossa parte, enquanto turistas, relativamente ao nosso impacto individual. Está nas nossas mãos decidir deixar um impacto positivo nos locais que visitamos. Como dizia o fundador do escutismo Baden-Powell: “Procurai deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrastes”. Esta frase faz todo o sentido no contexto do turismo sustentável, que nos traz precisamente essa ideia, a ideia de que o meio ambiente e as comunidades locais devem beneficiar do turismo, tanto economica como cultural e socialmente.
Assim, devemos procurar contrariar estas tendências negativas da massificação do turismo e lutar por um turismo que promova a inclusão social, conserve o meio ambiente e a sua biodiversidade, estimule um crescimento sustentável da economia da cidade e preserve tradições e cultura.
À primeira vista, todos estes termos nos podem remeter para um mesmo universo ligado ao turismo verde e ecológico. De facto, todos eles estão associados, mas surgiram com propósitos ligeiramente diferentes fruto de tentativas de chegar ao conceito ideal para fazer a transformação que a indústria do turismo tanto precisa.
Como vimos acima, é urgente tornarmo-nos turistas mais conscientes em relação ao impacto que causamos nos países que visitamos. Por ainda estarmos muito longe de eliminar por completo este impacto, muitas pessoas preferem utilizar o termo turismo responsável, já que este termo foi criado com o propósito de espelhar o desenvolvimento desta consciência como um processo de transição. Ou seja, quando falamos em turismo responsável referimo-nos ao compromisso que o turista toma em aprofundar a sua consciência e responsabilidade sobre o impacto da sua viagem. Por outro lado, o conceito de turismo sustentável, é apresentado como um fim absoluto, isto é, apenas se refere a viagens que sejam 100% sustentáveis, que não precisem de quaisquer revisões de comportamentos, nas quais nem o meio ambiente nem o tecido sociocultural das comunidades de acolhimento são prejudicados. De facto, poucas são as viagens que se podem considerar 100% sustentáveis, por esse motivo podemos considerar o conceito de turismo responsável um pouco mais realista, ainda que menos ambicioso.
Mais recentemente, o termo que tem ganho mais força é o de turismo regenerativo. Este conceito defende que, além de não termos impacto negativo enquanto turistas, não devemos ter impacto zero, mas sim um impacto regenerador. Isto é, aqui é solicitada uma maior proatividade na defesa dos recursos da cidade ou do país visitado. No fundo, esta abordagem ao turismo verde vem dizer-nos que destruir para depois reconstruir não é o caminho a seguir, mas sim ter um comportamento regenerador à partida. Regenerar é precisamente o mote para o GreenFest deste ano.
Por sua vez, o ecoturismo, que também pode ser designado por turismo ecológico ou turismo de natureza, caracteriza atividades turísticas que se desenvolvem sem alterar o equilíbrio do ambiente, evitando assim qualquer dano na natureza. Este termo refere-se, na verdade, a esta compatibilização da indústria turística com a ecologia, respondendo também à crescente procura por este tipo de modalidade turística.
A pandemia causada pelo COVID-19 está a ter um impacto devastador em diversos setores de actividade, sendo o turismo um deles. Segundo a Organização das Nações Unidas para o Turismo (OMT), estima-se que as chegadas de turistas tenham caído 74% em 2020 em comparação com 2019. Perspetiva-se que, além de encontrar uma solução para acabar com a pandemia, será também necessária uma solução para a recuperação da economia e, em particular, do turismo. Os efeitos da pandemia em países em desenvolvimento da Ásia e do hemisfério ocidental (pequenos Estados insulares, em particular) foram especialmente graves, já que o turismo era uma das suas maiores fontes de rendimento.
A questão que se impõe neste momento para o turismo é em que moldes será feita a sua recuperação, porque ela deve ser responsável e sobretudo sustentável de modo a ser duradoura e forte. As agências de viagens e os mais diversos players do setor já se têm vindo a debater com os problemas pré-pandémicos causados pelo crescimento do turismo global nos últimos anos – as cidades superlotadas, a degradação ambiental e a alta poluição devido às viagens aéreas são temas para os quais se têm vindo a estudar soluções. Atualmente, há um problema adicional que deve ser combatido a par das anteriores preocupações – a pandemia. O apelo da Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas (OMT) vai no sentido de se adotar uma política de retorno que em vez de deixar de lado as anteriores preocupações as incorpora de raiz, trazendo a indústria do turismo de volta de uma forma mais sustentável nos próximos anos. Agora mais do que nunca é fundamental repensar a indústria do turismo e aproveitar o momento de mudança para resolver problemas mais antigos.
Com o abrandamento do turismo devido à pandemia, verificou-se uma tendência de descida da pegada de carbono pelo setor, ou seja, a partir deste abrandamento forçado, foi possível termos uma ideia de como seria um turismo mais sustentável. Em 2020, o número de viagens de avião e de cruzeiro caiu drasticamente, tendo aumentado a procura por carabanas e bicicletas. Observou-se que, perante as restrições impostas pela pandemia, muitas pessoas optaram por fazer férias no seu próprio país, nomeadamente os alemães que, segundo a FUR, fizeram cerca de 4 milhões de viagens domésticas a mais do que em 2019. Além disso, muitos turistas escolheram alternativas de alojamento mais sustentáveis, isto muito devido a questões de segurança e higiene (em apartamentos ou parques de campismo o contacto com outros hópedes é inferior do que num hotel ou hostel), tendo, assim, reduzido, intencionalmente ou não, o consumo de água e a produção de lixo, o que nos leva a crer que o turismo pode tirar algumas lições relevantes do contexto pandémico.
Sabendo que o transporte aéreo é um dos calcanhares de aquiles do turismo sutentável, é interessante verificar que esforços estão a ser realizados de modo a resolver este problema. Segundo a BBC, uma descoberta promissora surgiu recentemente relativamente a uma nova abordagem para fazer combustível para aviação a partir de resíduos de alimentos. De acordo com os cientistas, esta nova abordagem tem o potencial de reduzir maciçamente as emissões de carbono dos voos. O estudo aponta para uma redução das emissões dos gases de efeito de estufa em 165% em comparação com os combustíveis fósseis (ste cálculo considera a redução do carbono emitido pelos aviões mais as emissões que são evitadas quando o desperdício de alimentos é desviado do aterro). Há, por isso, motivos para olharmos com otimismo para esta retoma sustentável do turismo no pós-pandemia.
Viajar é um dos maiores prazeres da vida. Obviamente que turismo não é algo que deva ou possa ser cancelado. O que devemos tentar é encontrar modos de continuar a viajar, mas de diferentes formas – de um modo sustentável e sem prejuízo para o nosso planeta. Fazer escolhas conscientes quando planeamos uma viagem não é assim tão difícil. De seguida, tens 10 dicas para fomentares esta consciência de modo a que na tua próxima viagem consigas praticar um turismo mais sustentável.
1. Evita a época alta
Se vais começar agora o planeamento da tua viagem, pensa bem na data que vais escolher. Além de ser mais barato, viajar fora da época alta ajuda a garantir que o local visitado não vai ficar superlotado e que os seus recursos têm a possibilidade de ser melhor administrados. A sazonalidade afeta imensos locais e as suas populações, já que traz vários problemas como o trânsito, más condições de trabalho e grande pressão sobre os recursos.
2. Leva uma mochila às costas
Viajar com malas pesadas é uma decisão menos ecológica, pois cada quilo conta ao voar, e é também uma opção muito menos prática. Quanto mais peso o avião levar, maior será a quantidade de emissões de carbono produzido. Leva contigo apenas o essencial para uma viagem responsável.
3. Sempre que possível, evita o avião
Como já referimos nos subcapítulos anteriores, as viagens aéreas são sem dúvida um dos maiores entraves para uma viagem sustentável, já que este meio de transporte é extremamente poluente. Por vezes, porém, a viagem de avião é inevitável, principalmente se tiveres de atravessar oceanos para chegares ao teu destino. Contudo, muitas vezes o avião pode ser evitado. Por exemplo, se fores passear dentro do país ou até dentro do espaço Europeu, podes privilegiar outros meios de transporte mais ecológicos como a tua primeira escolha. Outra dica relativa às viagens de avião que te deixamos é que se tiveres mesmo de te deslocar neste meio de transporte, opta sempre por voos diretos, apesar de poderem ser mais caros estarás a evitar viagens desnecessárias. Se não existirem voos diretos para o teu destino, procura sempre investigar se existem outras alternativas para o trajeto desse segundo voo, como uma viagem de autocarro ou comboio.
4. Opta por transportes públicos
O transporte é, de facto, uma questão com grande peso ecológico dentro do turismo e por isso deixamos mais uma dica dentro desta área. Sempre que te for possível, escolhe os transportes públicos, já que desta forma não estarás a criar nenhuma emissão de carbono adicional pelo teu transporte privado. Se estás a descobrir um novo local, considera caminhar, andar de bicicleta ou os transportes públicos antes de utilizares o teu carro ou alugares um no destino. Existem muitos lugares que oferecem uma boa rede de transportes públicos. Além de não contribuires para o aumento das emissões de carbono, vais conseguir evitar acidentes de transito que se podem proporcionar, por exemplo, pelo desconhecimento de condutas próprias de transito do local. Se não tiveres mesmo a opção do transporte público, opta por alugar uma viatura menos poluente.
5. Compra produtos locais
Uma das melhores experiências que podes ter ao viajar é experienciar produtos locais que se calhar não são tão acessíveis no teu local de residência. Os produtos locais também são sempre as melhores souvenirs que podes trazer. Além de proporcionarem uma experiência mais autêntica e característica do local, os produtos locais, sejam eles artesanato ou gastronomia, são também muito mais sustentáveis. Ao optares por comprar produtos locais, vais estar a valorizar e a incentivar a economia local e a reduzir os quilómetros daquilo que consomes (quanto maior for a distância que o produto tiver de percorrer, maior será a sua pegada no meio ambiente).
6. Comporta-te como se estivesses em casa
Seja qual for o alojamento da tua escolha, hotel, hostel, pousada ou parque de campismo, comporta-te sempre da mesma forma – como se estivesses na tua casa. Isto porque há hábitos de sustentabilidade que tendemos a desleixar durante as férias. Por exemplo, em casa não mudamos diariamente as toalhas, mas em muitos alojamentos, principalmente hotéis, essa é uma prática comum. Pode parecer um ato insignificante, mas não o é. Existe um grande desperdício de energia e água na lavagem diária das toalhas. Este desperdício pode ser evitado colocando o sinal de não incomodar na porta ou pendurando as toalhas de modo a dar a informação de que pretendes utilizá-las novamente.
7. Escolhe alojamentos sustentáveis
Felizmente, existem cada vez mais opções de alojamento sustentável e os mesmos são até considerados trendy e instagramáveis. Sempre que fores viajar, certifica-te que escolhes um alojamento com práticas sustentáveis. Para isso, verifica sempre as certificações do local em questão, pois muitos podem publicitar que são ecológicos e na verdade não terem qualquer tipo de certificação que o comprove.
8. Leva um kit reutilizável contigo
Se queres ser um turista sustentável e poupar bastante dinheiro, nunca te esqueças de levar contigo garrafas e recipientes reutilizáveis. Desta forma, vais reduzir drasticamente o uso de plástico durante a viagem e terás sempre água contigo, já que poderás reabastecer-te onde quer que estejas. Caso não queiras beber água da torneira, opta por um garrafão de 5L de água (em vez de comprares várias garrafas de plástico pequenas) e vai enchendo a tua garrafa reutilizável. Outros itens reutilizáveis que deves incluir no teu kit de viagem são, por exemplo, escovas de dentes de bambu e sacos reutilizáveis para levar comida e snacks.
9. Não interferiras com a fauna e a flora
O maior princípio do turismo sustentável é não destruir as características originais do local que visitamos, por isso esta dica é das mais importantes que podes seguir. Ao fazer uma caminhada, por exemplo, mantem-te no trilho marcado sempre com uma distância segura de quaisquer animais selvagens que possas encontrar no local, isto porque sair do caminho designado pode significar atropelar plantas e interagir com os animais pode ser perigoso e tentar alimentá-los com a nossa comida pode ter um efeito nefasto. Pode ser tentador tentar alimentar pombos com bocados de pão, mas os animais selvagens não estão habituados à nossa presença e a alimentação recorrente pode habituá-los à nossa presença mudando os seus comportamentos naturais e desencadeando hábitos perigosos. Por outro lado, também podes achar aliciante tirar fotografias com animais selvagens ou até mesmo subir e andar de elefante, por exemplo, mas se procuras formas de praticar turismo sustentável, este tipo de atividades devem ser logo rejeitadas, pois não vais querer estar a contribuir para o desenvolvimento da exploração animal. Por último, é bastante óbvio mas também importante destacar que não deves deixar que o teu lixo interfira na fauna e na flora que estás a visitar, por isso sempre que produzires lixo lembra-te de o libertar nos locais apropriados e se no momento não tiveres locais onde o deitar, guarda-o contigo e deita-o fora mais tarde.
10. Deixa-te envolver pela cultura local
O que pode ser mais enriquecedor numa viagem do que nos deixarmos envolver por uma cultura diferente da nossa? Se queres ser um turista consciente, procurar agir como um local e respeitar as tradições culturais e gastronómicas da cidade ou do país que estamos a visitar é essencial. No planeamento da tua viagem, pesquisa sobre os costumes, sobre os restaurantes mais tradicionais, aprende algumas palavras do idioma e deixa-te envolver por tudo isso. Através deste processo, vais conseguir integrar-te muito melhor e mais rapidamente no local que estás a visitar e serás um turista mais atento e sutentável.